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Norman Bates e a psicologia barata

Norman Bates e a psicologia barata

Este texto foi publicado originalmente na Take Cinema Magazine dia 21 de julho de 2016 com o título [Segunda Dose] Psico II (1983) e pode ser lido na íntegra aqui.

Será quem em 1983, 23 anos depois do original, alguém estava à espera de uma sequela de Psico? Aparentemente a Universal pareceu pensar que sim. Inicialmente concebido para a TV por cabo foi realizado por Richard Franklin e escrito por Tom Holland, que poucos anos depois realizaria A Noite do Espanto e Chucky – O Boneco Diabólico.  Apesar de Robert Bloch, o autor do livro em que se baseou o original, ter escrito uma sequela em 1982 que satirizava os filmes slasher em Hollywood, este não foi a base para o argumento de Holland que escreveu uma história original.

Norman Bates é libertado de uma instituição mental depois de passar 22 anos em confinamento. Lila Loomis, irmã de Marion Crane, protesta veementemente com uma petição assinada por 743 pessoas, incluindo os familiares das sete pessoas mortas por Norman antes de seu encarceramento, mas o seu pedido é indeferido. Norman é levado para sua antiga casa atrás do Bates Motel pelo Dr. Bill Raymond que lhe assegura que tudo vai ficar bem. No entanto, logo se torna evidente que o seu passado conturbado vai continuar a persegui-lo.

Com um elenco secundário cheio de caras conhecidas da década, como Robbert Loggia, Dennis Franz e uma novíssima Meg Tilly, e com nomes de peso na equipa técnica, como o consagrado compositor Jerry Goldsmith ou o talentoso director de fotografia Dean Cundey, Psico II abraça a missão impossível de continuar um clássico absoluto duas décadas depois de este se ter consolidado no consciente colectivo cultural à escala global. Mesmo que fosse um filme acima da média, sofreria sempre pelo peso da comparação com a obra que o precede. E, se é verdade que tecnicamente é um filme competente, o argumento de Holland perde-se num conjunto de implausibilidades. Sendo interessante o ângulo da vingança que desenha, não resiste, no entanto, a um escrutínio lógico mais apurado, abusando dos twists e revelações, especialmente na reta final. O obstáculo imenso da conclusão lógica do original a ser contornado por revelações familiares novelescas com o objectivo de devolver Norman Bates ao seu estado original de senilidade, restabelecendo assim o status quo do móbil dos crimes originais.

Em suma, Psico II padece de um mal comum nas franchises actuais: a necessidade da narrativa trilhar caminho para histórias futuras. Nesse sentido, o seu desígnio final é inorgânico, desonesto e pouco interessante: Psico II tem de levar Norman Bates de volta à loucura, “sintonizá-lo” com a sua mãe, enquanto esta o olha da janela à espera de clientes no cimo das escadas de acesso à arrepiante casa, em última instância servindo mais habilmente as necessidades do marketing do que da necessidade de explorar as potencialidades da personagem e dos seus reais demónios.

Se está a ler isto e nunca viu Psico II provavelmente nunca o verá. A verdade é que o mero facto de existir foi para mim razão suficiente para o procurar e, se não fosse uma sequela de um clássico, possivelmente teria sobre ele opinião mais generosa. É uma produção competente do princípio da década de 80 e, nunca chegando aos calcanhares do original, também não é propriamente, por exemplo, o Psico III.

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