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Vampiros à moda dos anos 80

Vampiros à moda dos anos 80

Este texto foi publicado originalmente na Take Cinema Magazine dia 15 de Fevereiro de 2017 com o título [Segunda dose] A Noite do Espanto – Parte 2 (1988) e pode ser lido na íntegra aqui.

 

Três anos depois do original A Noite do Espanto – Parte 2 tenta reproduzir a fórmula do sucesso desse filme com a sua mistura de terror e comédia, aqui ainda mais acentuada. Contando com o regresso de Roddy McDowall, no papel de Peter Vincent, e de William Ragsdale como Charley viu, no entanto, Chris Sarandon impossibilitado de participar no projeto por conflito de agendas com a sua participação em Chucky, O Boneco Diabólico, curiosamente realizado por Tom Holland, responsável pelo filme anterior. Com a recusa Stephen Geoffreys para repetir o seu papel de Evil Ed, que garantiria a continuidade direta do desfecho do filme original, abriram-se assim as portas para Julie Carmen no papel de Regine, a vingativa irmã do vilão original. Na sua companhia encontramos Russell Clark, no andrógino e silencioso papel da patinadora Belle, Jon Gries como Louie, e Brian Thompson, que os fãs de Ficheiros Secretos reconhecerão imediatamente, como o caçador de recompensas extraterrestre, no papel do devorador de insetos Bozworth. Importante adição ao elenco é também Alex, a nova namorada de Charley, agora na universidade, interpretada por Traci Lind.

Com a ausência do autor original entra então em cena o argumentista e realizador Tommy Lee Wallace. É impossível falar de Wallace sem falar da sua relação com John Carpenter pois a sua carreira está intimamente ligada à do mestre do terror desde o tempo em que foram colegas na USC – Universidade da Califórnia do Sul. As suas inúmeras colaborações cobrem uma grande fatia da filmografia de Carpenter e Wallace executou para o seu amigo as mais diversas funções, desde diretor de arte a editor de efeitos sonoros, tendo encarnado inclusivamente o assassino Michael Myers no clássico de 1978 Halloween – O Regresso do Mal. Carpenter ofereceu-lhe a cadeira de realizador para a sequela Halloween II – O Grande Massacre, mas este recusou para mais tarde aceitar a infame sequela seguinte, Halloween III: Season of the Witch no original. Com esta estreia na realização em 1982, sendo também responsável peloo argumento, produziu um famosíssimo tiro ao lado com uma terceira parte que se afastou tanto do original que até o seu título em português foi Regresso Alucinante. Nesse mesmo ano escreve o argumento de Amityville II – A Posse e, com A Noite do Espanto – Parte 2 em 1988, tornou-se numa espécie de especialista de sequelas de qualidade duvidosa.

A verdade é que só com alguma dose de boa vontade podemos considerar que esta sequela está à altura do original. O culto do filme de Holland é de tal forma que o apreço dos fãs transbordou para esta segunda parte, mas em todos os capítulos esta é uma entrada menor numa saga que não teve continuação depois do filme de Wallace. Julie Carmen, apesar do twist de género em relação ao vilão original, não faz esquecer Sarandon e, apesar do evidente gozo de McDowall no papel de Peter, o carisma do elenco está em claro deficit em comparação com o que tínhamos experimentado no filme anterior. Ragsdale, em processo de yo-yo narrativo – ora agora acredito em vampiros, ora agora não acredito – numa manobra inorgânica de construção de tensão, acaba por desaparecer em boa parte do filme. Apesar de um argumento com dificuldade para encaixar significativamente todas as suas cenas, quem acaba por brilhar com o apagamento do personagem principal é Traci Lind, num papel progressivo de donzela em processo de salvamento do seu homem. Ainda assim não chega a ser suficiente para elevar o empreendimento que oferece twists inconsequentes, cenas de encher chouriços e, sempre dramático num filme deste género, poucas ou nenhumas gargalhadas e ainda menos sustos.

Não é de espantar que, depois de A Noite do Espanto – Parte 2, não tenha havido uma terceira parte. O charme do primeiro também se recusou a participar nesta sequela e foi preciso esperar por 2011 para o franchise ser reanimado com o remake Noite do Medo que, apesar de competente, acaba por ter uma grande desvantagem: a inocência dos anos oitenta já é coisa do passado distante. Mas isso fica para outras doses, numa outra altura.

 

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