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Mutant Blast

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Vamos directos ao que interessa: Mutant Blast merece ser celebrado. Porque há muitas formas de cinema, de o pensar, de o produzir e de o experimentar. Num panorama em que o cinema nacional há muito sofre com a dificuldade em se relacionar com o seu público, aparece como um oásis no deserto para os sedentos de diversão descabelada falada na nossa língua. Independentemente da qualidade e mérito das produções nacionais, não é todos os dias que um filme de género e com potencial comercial tem o apoio do ICA ­- Instituto do Cinema e do Audiovisual e, depois da participação e aclamação num número inusitado de festivais internacionais, encontra o caminho para as nossas salas de cinema para exibição comercial. É certo que ostenta orgulhosamente o crachá da produção da Troma Entertainment – Lloyd Kaufman tinha já descoberto e distribuído o trabalho de curta-duração do realizador Fernando Alle –, mas esta mítica produtora série Z americana nunca foi de gastar muito dinheiro, sendo responsável por filmes de culto que navegam constantemente a linha entre o mau gosto e a genialidade. É um casamento perfeito, e é notória a paixão e a entrega de todos os envolvidos nesta produção de baixo orçamento e elevada criatividade.

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Tudo começa com um apocalipse acidental que liberta criaturas sedentas de sangue (cujo nome é tabu, podendo, no entanto, adiantar que começa por “z”), e que, pelo caminho, leva ao uso de bombas nucleares. A acrescentar à loucura estabelecida, a radiação libertada por estes ataques provoca, num piscar de olhos, inenarráveis mutações nos sobreviventes. As influências são óbvias e, à falta de mais meios, incontornáveis. Mutant Blast remete para o entusiasmo gore dos primeiros trabalhos de Peter Jackson, com pinceladas de Sam Raimi, também em início de carreira. A apadrinhar tudo isto está George Romero. Há um gosto especial e contagiante nos descabelados efeitos práticos e no uso da violência. No entanto, a grande surpresa, é que tudo isto funciona, não como um perturbante filme de terror, mas como uma comédia negra e surreal que vai beber a Monty Python e que acaba por nos ir conquistando pelo meio das imponderabilidades e das gargalhadas provocadas por inesperados e surpreendentes desenvolvimentos narrativos.

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Lloyd Kaufman – que teve um papel importante no lançamento da carreira do realizador de Guardiões da Galáxia ­– afirma aos sete ventos que Fernando Alle é o próximo James Gunn. Nas muitas entrevistas disponíveis do realizador – incluindo uma conversa com a Take Cinema Magazine em colaboração com o Segundo Take que pode ser ouvida aqui –, o próprio afirma que Mutant Blast é uma carta de amor, em jeito de despedida, a um género que muito aprecia, no entanto sonhando com voos mais altos. A sua grande paixão, a aventura galáctica Star Wars que continua a ser um fenómeno mais de 40 anos depois, encontrou caminho por entre as muitas ideias de Mutant Blast na estética de uma das suas personagens centrais. Se há momentos em que o filme corria o risco de se reduzir a um amontoado de ideias, é o ritmo frenético da realização e da edição que garante o envolvimento dos espectadores na narrativa. Sem esquecer o ingrediente que acaba por se revelar decisivo: o elenco. Deste, é obrigatório destacar o imponente Joaquim Guerreiro, em dois papéis distintos, o gregário Pedro Barão Dias, o coração da narrativa, e a intensa Maria Leite, a personagem sã no meio da loucura que oferece dignidade a todo o procedimento.

Mutant Blast é o filme português para todos aqueles que dizem não gostar de filmes portugueses. Porque não se fazem assim por terras lusas todos os dias E porque queremos poder dizer, quando Fernando Alle for uma estrela internacional, que estivemos lá e vimos como tudo aconteceu.

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