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Star Wars: há muito tempo, numa galáxia longínqua

Star Wars: há muito tempo, numa galáxia longínqua

Há muito tempo, numa galáxia onde ainda não havia A Guerra das Estrelas...

Pré 1973: Um universo sem guerras nas estrelas

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Imaginem, se conseguirem, um mundo sem A Guerra das Estrelas. Bem sei que neste momento parece impossível, no entanto tempos houve em que a omnipresença da marca Star Wars — entretanto, fomos proibidos de usar o título em português, proibição que me dá especial prazer ignorar — não se fazia sentir, simplesmente porque não existia. O panorama da ficção científica (de pendor mais científico ou de fantasia), depois dos anos formativos do género enquanto expressão na sétima arte, vivia dividido entre a ponderação filosófica que Stanley Kubrick ofereceu em 1968 com 2001: Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey) e o escapismo de orçamento relativamente contido e estética duvidosa de filmes como Fuga no Século XXIII (Logan's Run, Michael Anderson, 1976). 

Não obstante o filme de Kubrick, este género ainda não tinha ganho o respeito que lhe era devido, e era encarado com desdém pelo mainstream, sendo normalmente apontado a públicos adolescentes de nicho. Em 1971, George Lucas estreou-se na realização de longas-metragens com THX 1138, uma obra quase experimental de ficção científica que expandia o seu filme de estudante na USC (University of Southern California). Depois de evitar a descida pessoal aos infernos, ao desistir da realização de Apocalypse Now — no que seria uma abordagem radicalmente diferente do que Francis Ford Coppola acabou por fazer —, Lucas revisitou a sua infância em 1973 com American Graffiti: Nova Geração. Quando este filme estreou, o norte-americano nascido a 14 de Maio em Modesto, na Califórnia, tinha já começado a escrever aquele que seria o seu próximo projecto: uma aventura espacial baseada numa variedade de filmes, bandas desenhadas e séries televisivas que o tinham impressionado nos seus anos formativos.

1973-1976: O nascimento de uma nova esperança

As influências de Lucas na criação da sua ópera espacial são sobejamente conhecidas, porém incontornáveis. A estrutura narrativa deve muita da sua inspiração ao filme de 1958 de Akira Kurosawa com o título internacional The Hidden Fortress (Kakushi-toride no san-akunin), e o conceito de aventuras no espaço deve muito a Flash Gordon, tanto a tira de banda desenhada de Alex Raymond como as suas episódicas aventuras cinematográficas das décadas de trinta e quarenta. Metropolis (Fritz Lang, 1927), A Desaparecida (The Searchers, John Ford, 1956), Tora! Tora! Tora! (Richard Fleischer, Kinji Fukasak, Toshio Masuda, 1970), Esquadrilha Heróica (The Dam Busters, Michael Anderson, 1954) e as bandas desenhadas Weird Fantasy, Weird Science, Shadow Comics ou Amazing Stories são apenas alguns dos muitos exemplos adicionais de obras que podem também ser listados como tendo permeado a criação do universo em fase embrionária.

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Por incrível que possa parecer (mais uma vez), o universo de A Guerra das Estrelas não nasceu totalmente formado e cristalizado. Entre 1973 e 1976, Lucas criou, alterou, experimentou e voltou a alterar (por vezes de forma radical) ideias, personagens, locais, mitologias e acontecimentos narrativos numa busca constante pela criação perfeita. Neste processo fascinante podemos ter um vislumbre do acto criativo de uma mente fervilhante no pico da sua imaginação. Alguns conceitos importantes aparecem imediatamente no rascunho de sinopse datado de 1973, Journal of the Whills, como a Ordem Jedi e o Império Galáctico. Desde esse momento, entre os primeiros rascunhos intitulados The Star Wars (1973-1974) e as várias versões do argumento em que os títulos reflectem a natureza episódica que se revelou no processo de escrita — Adventures of the Starkiller. Episode I: The Star Wars (1975), The Star Wars: From the Adventures of the Starkiller (1975), The Adventures of Luke Starkiller as Taken from the “Journal of the Whills” (Saga I) Star Wars (1976) — os elementos da história foram surgindo e tomando forma com a ajuda do trabalho de uma equipa de artistas, incluindo os decisivos desenhos conceptuais de Ralph McQuarrie. Luke Skywalker começou por ser um General envelhecido; o herói começou por ser Annikin Starkiller, um Jedi-bendu; a princesa Leia deu lugar a Deak, o irmão do herói, para mais tarde reaparecer; a ordem Jedi esteve para se chamar Dai Nogas; Han Solo esteve para ser um alienígena; conceitos, como os Cavaleiros Sith e os cristais Kiber, foram criados para mais tarde serem abandonados. Alan Dean Foster, o escritor fantasma de George Lucas da adaptação do argumento a ser editada a par com o filme — nesta altura, não era óbvio que este viesse a ter êxito —, foi então encarregue de escrever um romance que pudesse dar origem a uma sequela de baixo orçamento. Esta foi a primeira semente semeada por Lucas de expansão do seu universo por terceiros. Entretanto, depois de umas rodagens atribuladas e de uma ajuda preciosa da esposa Marcia na edição, George Lucas concluiu o seu projecto de sonho à última hora, estreando A Guerra das Estrelas nos EUA a 25 de Maio de 1977.

1977-1983: O início de um império

Com o sucesso ao nível planetário, Lucas decide tornar A Guerra das Estrelas numa saga episódica — vulgo franchise. Começam então a surgir as muitas versões contraditórias (incluindo do próprio autor) sobre os planos de filmes que continuariam a saga, bem como daqueles que contariam o que aconteceu antes de conhecermos Luke Skywalker, Leia Organa, Han Solo, Ben «Obi-Wan» Kenobi, Chewbacca, R2-D2, C-3PO e Darth Vader. Ainda em 1977, e não querendo repetir tão cedo o stress da responsabilidade de escrever e realizar um filme do calibre do primeiro, Lucas convidou a veterana Leigh Brackett para escrever um tratamento para o argumento do que então se designou chamar Chapter II ou Star Wars Sequel, a ser realizado pelo também veterano, e antigo professor de Lucas, Irvin Kershner. Lucas fala numa saga épica de doze capítulos e neste segundo episódio introduz a ideia de que Luke Skywalker tem uma irmã. Dada a reacção do público a Darth Vader, decide também explorar esta personagem e expandir o seu mito, e quando a decisão mais importante de toda a saga é tomada — Darth Vader não matou Anakin Skywalker, o pai de Luke; ele é o seu pai! — o conceito da irmã foi abandonado. 

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Em 1978, Brackett faleceu e Lawrence Kasdan foi convidado para terminar o argumento do segundo episódio, entretanto nomeado The Empire Strikes Back. Paralelamente, a Marvel continuava a sua edição regular de aventuras em banda desenhada iniciada no ano anterior com a adaptação do argumento de Lucas. No que toca a livros (e excluindo adaptações dos filmes), Splinter of the Mind's Eye, a continuação de A Guerra das Estrelas de baixo orçamento por Alan Dean Foster, é editada como uma curiosidade, abrindo a porta à edição das séries de livros The Han Solo Adventures e The Lando Calrissian Adventures nos anos seguintes. Para acabar o ano em beleza e capitalizar o sucesso de A Guerra das Estrelas, estreou no Natal The Star Wars Holiday Special, para posterior vergonha de todos os intervenientes. No ano seguinte, Lucas anuncia que a saga será constituída por nove capítulos — três trilogias —, ao invés de doze, e a derradeira versão do argumento anuncia um capítulo V. Este momento capital define que o novo filme será o capítulo central da segunda trilogia de três, renomeado o primeiro filme para Episódio IV - Uma Nova Esperança, e prometendo uma trilogia que contará a história dos jovens Ben Kenobi e Darth Vader. É introduzida também pelo mestre Yoda, uma nova e cativante personagem, a ideia de que haverá, além de Luke, uma outra esperança para os Jedi e para o destino da galáxia. Prosaicamente, este conceito foi introduzido para possibilitar a eventualidade de continuar a saga sem Mark Hamill, ou seja, Lucas não queria que o seu universo dependesse dos seus actores.

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O Império Contra-Ataca foi um sucesso e consolidou A Guerra das Estrelas como um fenómeno cultural. Com este capítulo, chegaram também os videojogos, tanto nas salas de jogos arcade como em sistemas caseiros a dar os seus tímidos primeiros passos. Prosseguindo os planos para a trilogia central, Kasdan voltou para o argumento do episódio VI, Revenge of the Jedi — mais tarde famosamente alterado para Return of the Jedi —, um capítulo em que Lucas contratou Richard Marquand para a cadeira de realizador e decidiu voltar a estar mais envolvido. Dando continuidade à sugestão de Yoda no filme anterior, outra decisão sísmica (narrativamente falando) é tomada: Leia é irmã de Luke. Mais uma vez, afunilava-se o universo da saga, mas ampliava-se o impacto e envolvimento emocional com este grupo de personagens. As mil e uma questões e implicações das revelações «Darth Vader é pai de Luke» e «Luke é irmão de Leia» estão no cerne de muitos debates que se continuam a ter sobre esta criação artística, mas é inegável que são também os pilares que transformaram excitantes aventuras espaciais numa saga trágica de trevas e redenção. Excluído do argumento, mas mantido na adaptação literária, está também um momento que capturaria o imaginário de fãs e autores interessados em explorar todos os recantos possíveis deste imenso universo criado por Lucas: a história de origem de Vader numa luta com Kenobi num planeta de lava.


Star Wars na primeira pessoa

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O Regresso de Jedi foi para o Star Wars o que o Indiana Jones e o Templo Perdido foi para a saga do aventureiro arqueólogo. Mal-amados na mitologia das suas respectivas sagas, mas, em ambos os casos, os meus filmes de entrada nestes universos que me definiram os gostos cinéfilos em tenra idade. É por isso que nunca conseguirei deixar de gostar de ambos com um incontornável travo nostálgico. Mesmo percebendo que, exceptuando o primeiro acto, O Regresso de Jedi é um remake d’A Guerra das Estrelas original. Mesmo abandonando Han Solo a Falcão Milenar durante quase todo o filme. Mesmo havendo Ewoks.

O que sobra, perguntarão vocês? Bom, deixem-me tentar começar a defesa deste capítulo: Jabba The Hutt, Han Solo em carbonite, Leia escrava, Luke Jedi da cabeça aos pés num fato preto cheiro de estilo, os Bothans que morreram para trazer os planos, finalmente o Imperador em cena, a morte de Yoda, a batalha de Luke com Darth Vader, as motas voadoras, as motas voadoras e as motas voadoras.

E, tenho de confessar, os Ewoks nunca me incomodaram verdadeiramente. Na inocência do impacto inicial, a sua vitória sobre o Império fazia todo o sentido.

Pode não ser o melhor nem o mais sofisticado dos episódios, mas é sem dúvida um excelente divertimento, e foi sem dúvida nenhuma uma óptima porta de entrada para o que se revelou ser um fenómeno duradouro, bem como o início do vício de ler as "novelizações" da Europa-América dos meus filmes favoritos.

 

 
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Depois do fascínio provocado por O Regresso de Jedi, os anteriores filmes do Star Wars foram, durante algum tempo, coisas de mitos e histórias passadas de boca em boca. Foi só em transmissões televisivas, em versões pan & scan mutiladas que vi os episódios IV e V, por esta ordem.

Uma Nova Esperança, prometia George Lucas no recém baptizado episódio IV, por alturas do relançamento de A Guerra das Estrelas em 1981. E, apesar de não ser o primeiro capítulo da sua planeada saga, foi onde tudo começou na realidade.

Com uma personagem central, Luke Skywalker, com que todas as crianças sonhadoras se podem identificar, lançada para o meio de um conflito em progresso num mundo fantástico e vivido, complementado por um punhado de personagens indeléveis, Star Wars acerta em todos os requisitos de uma aventura espacial e operática, transformando o seu relutante protagonista no herói salvador da galáxia, lutando contra a encarnação do mal na figura imortal de Darth Vader.

Decisivo na povoação do meu imaginário seria, sem dúvida nenhuma, o design das naves espaciais. Além da popularíssima Falcão Milenar e dos incontornáveis Tie-Fighters, foi o design da X-Wing que alimentou muitas horas de sonhos acordado em que me movia no universo do Star Wars, sempre ao comando de uma destas naves, numa luta incessante contra as forças do mal.

Mesmo em tenra idade reconheceria depois que foi n'O Império Contra-Ataca que Star Wars ganhou profundidade dramática, mas é inegável o charme do original.

 

 
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Finalmente, à terceira, a peça do puzzle que faltava.  O Império Contra-Ataca foi o último filme da trilogia original que vi. É aqui que o template esboçado no filme original é aprofundado com o desenvolvimento das personagens e das suas relações na construção de um épico edipiano em que a luta entre o bem e o mal à larga escala é traduzida numa batalha pessoal e familiar onde os pecados dos pais lançam uma nuvem sombria sobre os filhos, as suas opções, as suas escolhas e, subsequentemente, o seu destino.

O Império Contra-Ataca introduz também a icónica personagem Yoda, o guerreiro guru, um dos últimos vestígios da grandeza dos guerreiros Jedi, que irá treinar contrariadamente Luke. Yoda é uma criação inspirada que ajudou Star Wars a tornar-se um fenómeno cultural e a instalar-se no consciente colectivo tornando-se numa figura universal, símbolo de sabedoria, inteligência e iluminação.

Outro factor importante para o sucesso do filme é o romance à flor da pele entre os antagonistas Han Solo e princesa Leia, dramaticamente acelerado e interrompido ao mesmo tempo pela traição de Lando Calrissian na famosa cena do congelamento em carbonite.

O Império Contra-Ataca é tão icónico que se tornou na referência para todos os segundos capítulos de qualquer trilogia. Mais adulto, um pouco mais negro, elevando dramaticamente a parada, obrigando o espectador a conhecer o contexto do primeiro, A Guerra das Estrelas, e deixando-o em pulgas para a conclusão, O Regresso de Jedi.


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